Última alteração: 2018-04-13
Resumo
O presente artigo é parte integrante de uma tese de doutorado que teve como objetivo investigar as bases epistemológicas do conceito de assincronismo apresentando dados empíricos para contribuir na revisão de seu significado no desenvolvimento afetivo-emocional dos indivíduos superdotados, reposicionando o papel a família nesta dinâmica. A pesquisa foi realizada nas Salas de Recursos para Altas Habilidades/Superdotação da Rede Municipal de Ensino de Curitiba, sendo que, 58 participaram da triagem no primeiro momento da pesquisa, e 15 alunos com suas respectivas famílias compuseram o grupo na segunda etapa. Para este artigo, foram selecionadas duas famílias participantes da segunda etapa para exemplificar as interações predominantemente positivas e inconsistentes. Após análise qualitativa dos dados coletados por: Escalas de Qualidade na Interação Familiar (EQIF para crianças e adolescentes e EQIF para pais), Entrevista Semiestruturada e Sessão de Desenho-Estória, observou-se que a família com interações qualitativamente positivas em relação a seus filhos estabelece diálogo de comunicação, não utiliza punição física, os filhos identificam a família como apoio e envolvimento, apresenta dificuldade em lidar com a superdotação dos filhos em relação a expressões psicossomáticas. Em relação à família com interações qualitativamente inconsistentes apresentam falhas na comunicação, utilizam punição física, descontrole emocional da mãe, apresenta dificuldade em lidar com retraimento do filho para falar o que sente. A literatura da área apresenta o conceito de assincronismo como uma das características inerentes ao desenvolvimento dos indivíduos superdotados. Contrariamente a isso, confirma-se, com base na análise e nos resultados empíricos que o assincronismo é um fenômeno interacional; logo, não está no indivíduo, mas nas relações disfuncionais dele com a família. Conclui-se que o assincronismo origina-se na falta de alteridade nas relações. Em famílias com interações qualitativamente positivas – onde predominam indicadores de relações positivas e manifestações de alteridade – preponderam o reconhecimento da heterogeneidade que constituem este grupo.