Última alteração: 2018-04-13
Resumo
A heterogeneidade humana tem sido corrompida por um amplo processo de ajustamento e padronização que, no campo da educação, dá visibilidade a uma rede de explicações medicalizadoras que buscam justificar o não aprender. Alunos julgados, equivocadamente, com o estigma de doença, acabam sendo excluídos, pois não aprendem ou não se comportam como o esperado na escola. Desse modo, esse estudo objetivou refletir sobre medicalização na educação e os sentidos atribuídos ao não aprender por alunos dos anos iniciais do ensino fundamental I, identificados por seus professores como aqueles que apresentam doenças do não aprender, por seus familiares e professores. Para a geração de dados foi utilizado o discurso livre produzido pelos nove protagonistas (três alunos, três familiares e três professores), bem como os registros escolares produzidos sobre os alunos. A análise dos dados, de natureza descritivo-interpretativa, subsidiada pela abordagem qualitativa, permitiu elencar três eixos de análise, sendo aqui particularizado o eixo “A consequência do fracasso escolar - a doença, o medicamento e os encaminhamentos”. Os resultados indiciaram que tanto os discursos orais dos protagonistas, quanto os discursos escritos, produzidos nos prontuários acerca dos alunos apontados por seus professores como aqueles com doenças do não aprender, revelaram que o processo de medicalização se torna cada vez mais abrangente na escola, pois como o sujeito se refrata através do discurso do outro, todos são envolvidos, a família e a escola e, consequentemente, o aluno, que toma para si o rótulo do não aprender, dando continuidade ao movimento de medicalização, uma vez que o aluno vai se constituindo discursivamente, assimilando as vozes sociais. Nesse movimento, enquanto a educação inclusiva tem a proposta de uma escola para todos, voltada para o reconhecimento das diferenças e os modos singulares de apropriação dos conhecimentos, a medicalização caminha em sentido oposto, porque se enquadra na proposta de ajustamento, em uma perspectiva equivocada, de um padrão de normalidade.